A tradição na fotografia brasileira é conhecida em todo o mundo. Num país de tamanha diversidade étnica, que na verdade contém muitos países em seu território continental, seria impossível que a influência desta arte não tivesse exercido o sopro da inspiração a partir de ícones universais como Henri Cartier-Bresson, ou Pierre Verger, citando este francês que, aportando em Salvador em 1949, encantou-se pela terra na qual radicou-se para viver até os seus últimos dias. Esta tradição, na verdade, remonta a um tempo em que a fotografia não existia, na gênese da pintura de Rugendas e de Debret, aqui enviados de Portugal em missões além-mar ao Brasil Colônia, por que não supor esta relação na análise resumida da história da fotografia no Brasil ? São marcas indeléveis da cultura do registro de imagens de nossa terra, retratadas em desenhos e pinturas que depois se transferiram para a fotografia propriamente dita. Atualmente é larga a experiência e a pesquisa desta arte maior disseminada pelo território brasileiro, fundando escolas, conceitos e estilos, reverberando para o mundo uma visão já nem tão autóctone. Esta exposição tem por objetivo trazer a Paris alguns dos expressivos talentos da fotografia brasileira, como Orlando Azevedo, Rogério Medeiros e Vilma Slomp, integrantes da Coleção Pirelli/MASP, notadamente a mais importante do país. Outros essencialmente conhecidos por sua trajetória na área publicitária, como Kazuo Okubo, Cláudio Meneghetti e Mônica Rebello. Em outras modalidades da mesma arte apresentam-se Jose Abujamra, que exerceu nos anos sessenta o papel de repórter fotográfico na Europa, onde viveu parte de uma juventude inquieta e protagonista dos eventos de contestação que culminaram na Paris do Maio de 1968, Tonico Alvares, voltado em especial aos registros jornalísticos e de cunho político-social, Gilberto Perin, fotógrafo-viajante de olhar curioso, Gariba e Eduardo Álvares, pertinazes pesquisadores da mesma arte. A exposição ocorre num local histórico, mágico por sua memória, a casa que François Mansart, arquiteto de Luis XIII, criador das conhecidas mansardas que lhe tomam emprestado o nome, projetou e construiu para nela viver até sua morte, e que depois foi ocupada por Clotilde de Vaux, a musa inspiradora de Augusto Comte, o pai do Positivismo. O prédio, de 1642, é hoje monumento histórico nacional da França. A exposição acontece também como uma contrapartida aos eventos do Ano da França no Brasil, em pleno Mês da Fotografia em Paris.

Paulo C. Amaral
Artista plástico e curador da exposição
Setembro de MMIX