Para Arminda Lopes

 

Na catedral das dores,

Impera o silêncio dos corpos

Eles contêm, cada um à sua maneira,

O drama de quem ali ousa

 

Impossível fugir daquela nave espessa, opressora de consciência

Escapar à cobertura que desaba todos os dramas

Sem que em mim reverbere o eco das mazelas humanas

 

Desumanas

 

A fome,

O desprezo,

A morte.

 

Esta, a mais serena das sensações naquele templo

Escuro

Pois há de por fim em todas as outras,

 

Pecados leves

 

Confissões tardias e inescapáveis de meus assombros,

De minhas omissões,

De meus atos,

De todos os meus pensamentos

 

A contrição que agora revolve dentro

O sumo da indiferença,

Sempre

 

Seu nome é dor.

Ela jaz no frio chão da igreja

O seu lugar de nascença

 

Rasteiro

 

A escória da humanidade toda

 

   Paulo Amaral

Outubro de MMIX