Cassiano Sotomaior traz uma particularidade muito distinta, que é a de ser voraz pela pintura. Tal paixão não está afeita ao preceito estético, ou ao resultado visual do seu trabalho. Antes, vive atrelada ao sentimento da produção no momento em que ela se dá, talvez sem que tenha sido meditada a priori. A pintura de Sotomaior só começa a existir sobre a branca tela nua, como um desafio instantâneo, fugaz e quase efêmero. Autodidata, produz uma obra expressionista e irreverente, por vezes aparentemente inacabada, porque despreocupada com a forma, centrada no conteúdo onírico de figuras de um só olho a espreitar nossa vã curiosidade. São trabalhos muito distintos entre si, sugerindo a desunião do conjunto, pela razão única de que o artista é inquieto numa produção que vai se formando aos poucos até desembocar num discurso teórico que o próprio Cassiano ousou denominar “instintivismo”. Essa palavra não existe em nossos dicionários mais respeitáveis. Ela é imaginada por Sotomaior, em relação à pintura, assim como para a literatura Guimarães Rosa criou  termos que não constavam dos léxicos de seu tempo. O que seria o “instintivismo”, segundo Cassiano ? Ele escreve: “…o principio da arte como manifestação criativa capaz de elevar o homem através da sensibilidade instantânea que produz no espectador, sem metáforas e/ou criticas embutidas que tornam o conceito da arte em algo prolixo, hermético e cada vez mais frio; o “instintivismo” surge para resgatar a alma que se perdeu na arte fazendo-a  dialogar diretamente com a emoção pura, intrínseca à natureza do homem…” E completa: “O instintivismo” não é uma escola, mas um caminho…” Ora, somente o tempo, depuradas todas as manifestações críticas – as boas e as tendenciosas -, somente ele nos confirmará, ou não,  a persistência do termo criado por Cassiano. Mas enveredei para este lado do texto para apenas ressaltar a verve do jovem artista que ora é acolhido pela Arte&Fato, galeria de vanguarda que aposta em  inovação. Trata-se de uma promessa na arte contemporânea de nosso meio. Quem viver, verá.

 

Paulo C. Amaral
Da Academia Brasileira de Belas Artes, RJ
Inverno de 2014