Inquieto, o fotógrafo Tonico Álvares percorre o olhar a um tempo contemplativo e certeiro sobre a cena que em poucos instantes vai registrar. Acaba de encontrar um tesouro que pode ser roubado, e trata então de apontar a câmera no afã de aprisioná-lo. São, mais uma vez, pessoas, tema recorrente em sua obra, como na mostra PARIS-INDIA, exposta no MARGS em 2005. Mas aqui elas estão dispostas de maneira diversa, elas não se encontram em poses induzidas, não enxergam o fotógrafo, não percebem a sua invisível e definitiva presença. Elas simplesmente conversam, provavelmente durante a folga para o almoço, numa área de lazer do Lincoln Center, em Nova York.  O que fazem e dizem essas pessoas nunca saberemos ao certo, a não ser pela suposição possível que poderemos deduzir como espectadores das raras tomadas de Tonico Álvares, um dos mais renomados fotógrafos brasileiros de nosso tempo. Nessas fotos, captadas em 54 minutos e 11 segundos decisivos, parece não ter havido preocupação do autor em distribuir a composição segundo os cânones da fotografia. Nada disso. Naquele breve lapso, o fotógrafo dá um giro pelo mundo das etnias focando e revelando-nos o espírito de nossa diversidade global. Tudo parece suspenso no ar, flanando como uma gaze de diáfanas cores. Parece que vejo isso, e tal só é possível porque o fotógrafo imerge neste universo, compondo-o ele também. Falta pouco agora. Com pressa, Tonico Álvares, conscientemente ou não, de forma feliz deve adivinhar aquelas falas que misturadas se processam numa sinfonia em frente à objetiva. Surge deste ato, muito breve no tempo, mas infinitamente longo em conteúdo e densidade, uma obra estranha, quase transparente, como a revelar pensamentos e confessar cumplicidades daquele tesouro encontrado.

 

Porto Alegre, Inverno de MMXVII
Paulo C. Amaral, artista plástico, curador independente
da Academia Brasileira de Belas Artes, RJ