Um ligeiro olhar sobre as artes visuais do Rio Grande do Sul na metade do século passado de pronto situaria Leda Flores entre os artistas mais renomados de sua época. Entretanto, uma mirada mais judiciosa sobre sua rica obra percebe não apenas a artista plástica de excepcional talento e sucesso, ao lado de suas contemporâneas Alice Bruggemann, Alice Soares, Christina Balbão e Dorothea Vergara, mas principalmente nela identifica a mensageira do singular discurso que inaugurará, nos anos cinqüenta, um novo e esperado caminho para as artes plásticas de nosso meio. Seus trabalhos mais conhecidos, como “A Flautista ” e “ Leda e o Cisne ”, por exemplo, foram muito ousados para o tempo em que foram feitos. Passados 72 anos do início da carreira da artista, pode-se ainda afirmar que aquelas peças continuam insólitas e pioneiras, e a um tempo pós-modernas e contemporâneas. Leda transitou por quase todas as linguagens das artes visuais: pintura, desenho, tapeçaria…, mas foi na corajosa deformação de suas esculturas, foi na desconstrução do olhar comum onde a artista impôs a particularidade superior que a distingue no cenário das artes nacionais. Sobre Leda, escreveu seu mestre e amigo, Fernando Corona “ Sua personalidade foi marcada ao se libertar da forma natural dos objetos, que apenas deve servir para sabê-los entender, pela razão simplista onde a consciência amadurece. ” Além de dedicar-se à sua própria arte, Leda Flores destacou-se como professora do Instituto de Artes da UFRGS,  desígnio dos mais nobres, transmitindo aos seus alunos o amor pelo aprendizado. Cláudio Martins Costa, que foi um dos grandes escultores de nosso Estado, sobre ela escreveu: “ Devo a esta artista minha decisão pela carreira de escultor devido ao encantamento que tive diante da “ Flautista ”. Pontuando as características da obra de Leda Flores, em curso de pós- graduação da Faculdade de Música Palestrina, a estudiosa Leda Pauletti Piccoli destaca, entre outras, as seguintes: domínio da técnica escultórica; expressividade; versatilidade; e deformação em favor do sentimento. Mulher de grande simplicidade e timidez, recebeu medalha de ouro no Salão da Exposição Farroupilha, em 1935, troféu este que nunca foi buscar. O projeto que visa à memória de sua trajetória artística de sete décadas impõe-se como empresa da maior importância para contemplar as gerações que a sucederam, assim como as próximas.

 

Paulo César do Amaral
Artista Plástico e curador
Membro da Academia Brasileira de Belas Artes
Julho de 2010