Marcelo Hübner é essencialmente um pintor que domina as cores.

Sua obra traz, antes de tudo, a mensagem alegre e efusiva de um olhar livre, quase alheio ao drama humano, porquanto fixado nos matizes e no que estes possam reverberar em sensações positivas ao espectador.

Assim, seus quadros portam o discurso leve para os dias pesados. E por isso desde sempre vêm sendo disputados a cada nova exposição que o artista realiza.

Hübner, que começou sua carreira com cenas campestres, retratando colhedoras de girassóis, incursionando também pela escultura em que revelava floristas ligadas à mesma temática, visitou outros sítios em sua imaginação e observação. Pintou cenas praianas com perfeito domínio e corretos jogos de sombras que nos instigam pelo predominante contraponto da presença solar.

Atualmente se encontra em cenas urbanas, retratando prédios do cenário de Porto Alegre, alguns dos quais desde logo reconhecíveis pela precisão que o artista empresta aos rápidos gestos de pinceladas caracterizadas, mais uma vez, pela essência luminosa em sua pintura.

Este fato, já tão próprio de uma fase anterior (ramalhetes de flores embrulhados em jornais, à venda nas ruas da cidade, numa visão bem parisiense, digamos assim), toma agora o sentido da verticalidade da construção do edifício, do “amontoamento” dos andares, alusão construtivista, se não pelo conceito formal em arte, pelo sentido explícito do termo “construção” que remete de imediato à noção geométrica de organização.

Será uma mudança na trajetória do artista ?

O resultado visível deste trabalho meticuloso é uma arte de grata fruição, ou seja, aquilo que hoje tanto nos falta.

Nos dias em que vivemos, quando se fala em arte contemporânea, talvez por um modismo que já vem perdendo força, se espera do artista e de seu fazer um discurso expressionista, contestador, por vezes indignado. Assistimos a este fenômeno pelas redes sociais, por exemplo, (em que somos todos protagonistas – e artistas -e o que mais nos permitimos ser), onde é comum a mais gratuita indignação ocupar o terno espaço da mais sensata lucidez.

Entretanto, também ali convive uma parcela significativa de pessoas sedentas de contemplação, à qual não interessa tal inflamado discurso. E não podemos esquecer que a arte não pertence apenas ao seu criador, mas também àquele que a sorve.

A arte deve ser democrática e democratizada.

Assim, Marcelo cumpre com sua parte, com o compromisso eleito, aplicando não apenas a técnica de que dispõe e que conhece a cada traço na revelação de certa alegria, mas a presença de um pensamento que deseja ser dividido com quem mais dele necessita.

É este o principal lugar em que se situa o artista Marcelo Hübner em nosso cenário das artes visuais.

 

Porto Alegre, Primavera de 2016.

Paulo C. Amaral
Artista plástico, curador independente, escritor.
Membro da Academia Brasileira de Belas artes, RJ