A temporada de artes de 2015 revela Lya Luft como uma grata surpresa na pintura. Muitos têm se perguntado sobre esta desconhecida faceta da grande escritora. Ou ainda: – o que tem a ver a escritora com a artista ? Devo dizer que se trata da mesma pessoa que, por gestual inquieto e com pinceladas decididas, transpõe para as suas pinturas a carga intelectual e emocional que revela em seus textos. Nelas está presente a verve da autora, com a diferença apenas da escolha do suporte, aqui não mais o papel com pauta, mas a tela. Na Lya que pinta com largos gestos de sonho e liberdade é provável imaginá-la destruindo o primeiro esboço para encontrar a maneira mais justa de expressar o motivo que se perde em forma ao longo da sessão de pintura. E, depois, mesmo a própria tela que se originou do plano inicial. Acompanhando a evolução de alguns trabalhos da artista em seu ateliê, eu presenciei esses “pequenos assassinatos”. Um escritor faz o mesmo com seus textos: escreve, risca, apaga, destrói e reinventa. Em instantes, na pintura e na escrita, o resultado será outro, por vezes tão diverso da ideia primeira que apenas vestígios dela poderão ser percebidos. Mas resta o conteúdo, o essencial, como na lapidação da pedra bruta. A pintura de Lya não obedece a regras. Ela enfrenta e transgride os ditos cânones do métier. Numa sinfonia pastoral própria, da pintura de Lya nascem densas nuvens, desabam tormentas sobre falésias e florestas e movem-se ondas de formas estranhas que logo vão se acalmar na praia de alvas e sensuais dunas a desafiar a lei da gravidade. Tomando a Natureza por tema, a artista se desincumbe de tarefa nada simples, e esta sua predileção por algo que se comporta de maneira imprevisível revela a inegável dramaticidade de seu trabalho, assim como em sua obra literária. Um grande evento das artes visuais, sem dúvida, e uma artista de muito talento a Lya Luft pintora.       

 

 Paulo César B. do Amaral

Artista plástico e curador