À sua arte, como legítima expressão, nada mais deve o artista que dar-se a si próprio, isto é, revelar o seu retrato. Inicio esta afirmação a propósito de Marilia Fayh, artista brasileira que introduz nesta temporada de 2016 a sua primeira mostra individual no MARGS ADO MALAGOLI, um dos principais museus de arte do Brasil. Tardava já, porquanto a artista apresenta longa e celebrada carreira no Brasil e no exterior entre exposições individuais e coletivas. Mas voltemos agora ao preâmbulo deste texto, para dizer que as esculturas de Marilia representam a si própria a artista por aquilo que dela se pode depreender numa breve conversa – aberta que é Marilia a confissões as mais legítimas – e pela revelação inequívoca de sua maestria como escultora que naturalmente se impôs em nosso meio. Penso que a artista, durante estes longos anos, escreveu, como em seu livro “Diário de Alecrim”, nada menos do que retratos da própria vida. Graduada do curso de Comunicação e Publicidade da PUC-RS, em 1979, Marilia Fayh não esperou mais de um ano para fazer rumar sua nave criativa em direção às artes visuais pelas quais acreditava desvendar o verdadeiro e talvez único caminho ao encontro da realização pessoal. E revelou-se, assim, e com a propriedade de quem ocupa nas artes visuais um espaço prévia e meritoriamente reservado, guardiã de preceitos estéticos tão contestados pela arte contemporânea que deles – embora se negue -, valeu-se para chegar ao lugar em que hoje se encontra. Em arte ninguém inventa, tudo já foi visto, tudo apenas vive e anda em transformação, e é este o movimento que, graças a alguns insistentes artistas de muitas épocas, entre os quais Fayh, alheia a denominações teóricas e assaz demagógicas, permite à verdadeira arte não interromper-se em seus nobres desígnios. Aqui, em especial, citamos a expressão escultórica, em geral aquela que representa, pelas três dimensões que inclui, a via tradicionalmente mais completa e representativa do conjunto estético. Em Marilia Fayh podemos encontrar renovadas lições de grandes mestres – e aí poderíamos citar muitos -, mas sua arte muito feminina, de superfícies lisas e bem tratadas, carrega, sobretudo, o seu próprio e indissociável discurso, patrimônio adquirido ao longo de longa trajetória. Marilia insiste em sua mensagem muito particular por meio daqueles mestres cujos ensinamentos assimilou e fez preservar. A artista tem longa escola, em essência na escultura, mas também no desenho e na pintura, que são estes a base da compreensão da primeira, tendo frequentado cursos com Fernando Baril, Danúbio Gonçalves, etc.Já não estamos frente a uma simples e ignota promessa, senão diante de resultado prometido: a boa arte. O Museu de Arte do Rio Grande do Sul, terra da artista, completa em sua agenda uma lacuna, a quase quitação de uma dívida institucional, ao apresentar Marilia Fayh, escultora.

Paulo C. Amaral
Diretor do MARGS ADO MALAGOLI
Verão de 2016