Essas entrelaçadas linhas na construção de filamentos na mais recente obra de Magna Sperb são justamente o contrário do que poderiam significar as suas sombras; estas são a alma da obra final. Na sombra persiste a percepção do trabalho em si, mutante ao olhar de cada um, segundo o ângulo do qual se o observa, e que, à exponencial infinita, permite infindáveis interpretações. Estas sombras, para mim, são apenas o resultado de uma constatação final, muito longe de afastar o relevo da gênese no trabalho da artista, ou seja, aquilo que ela diretamente produz com a habilidade das mãos e a acuidade do olhar a tecerem fantasmas até mesmo – e é possível -, sem a clara consciência do verdadeiro alcance de suas interpretações. Afinal, o verdadeiro artista cria para si. Conhecia já a pintura de Magna, esta artista que de pronto rendeu-se a outra forma de se expressar, agora pela forma tridimensional em que encontra a necessidade de fundar uma mudança de linguagem. Todo o artista bebe em fontes outras, isso é inegável e saudável, e aqui, da experiência adquirida na pintura à manifestação escultórica, percebo em algumas peças de Magna alguma inspiração a partir da grande pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva. Há, entretanto, diferenças, o que guarda o aspecto da originalidade: em Vieira da Silva, certa inquietude na busca de um caminho, ao passo que em Magna, prevalece a insustentável delicadeza da tessitura. O resultado de tal leveza é uma marca própria da artista, de sua doçura, de sua forma no possível discurso visual que ela deseja proferir. Concentremo-nos onde nos pareça o mais importante (na obra ou em suas consequências); a resposta se encontra em cada olhar. É a mesma obra.

 

Paulo C. Amaral
Artista visual, curador independente.
Verão de 2019