Ao observar a obra de Fábio Rheinheimer, não posso deixar de considerar sua pluralidade no sentido de designar o amplo espectro de sua consistência. Ela vai do fino desenho à pintura, e desta a objetos até mesmo utilitários, como os chamados “Pontos de Luz”, que são apresentados nesta exposição da Galeria AZ. Entretanto – e já adianto –, a despeito do universo concreto do conjunto, não relaciono o trabalho do artista com o do arquiteto, pois tais ilações, que soem ser correntes quando se analisam um autor e sua obra em ligação, tendem ao reducionismo. Longe disso, o artista Fábio é o que é simplesmente por ser artista. As primeiras obras de Fábio Rheinheimer conheci em 2017, quando o convidei a expor nas Salas Negras do MARGS, do qual eu era diretor. A exposição, que tinha por título “Planeta Vermelho” originária de outra série do artista, denominada Waterfall, era composta por desenhos muito densos e primorosos, feitos com lápis de cor, aquarela e grafite sobre papel, exprimindo, pela qualidade dos sombreamentos, a volumetria daquilo que eu entrevia como panos dobrados. A lembrança daquelas imagens, em similitude, me vinha inculcada desde muitos anos antes, quando visitei a ala egípcia do Metropolitan Museum de Nova York, onde, numa pequena vitrine, se encontram expostos linhos egípcios meticulosamente enrolados, ainda em sua alvura original e aparentemente intactos. Pela idade daquelas raridades, algo como quatro mil anos, e por sua incrível conservação, a imagem dos linhos induzia à ideia de um milagre, algo de sacro em minha imaginação. Então, essa densidade no desenho de Fábio e a leveza dos linhos egípcios, como penso (e que tem muito a ver uma com a outra) provocaram em mim a ideia de eu estar em frente a um só objeto, apesar de estarem espaçados em sua produção por algumas eras. Aqui é como se uma fosse a releitura da outra. Desculpem-me pela digressão, mas trata-se de um sentimento que se impõe inarredável a cada vez que revejo esses desenhos de Fábio e lembro da imagem no Met. Outra série produzida pelo artista, agora em fotografias impressas sobre tecido, resultantes de uma só pintura em acrílico, com sucessivas mutações sobre si mesma, leva o nome de “A tempestade”, lembrando gestuais dramáticos como os acordes do movimento homônimo (4º) da Sinfonia Pastoral de Beethoven.
Numa apresentação mais recente, Fabio apresenta a série “Naves Poéticas” que, em crescendo visual, desemboca nos “Pontos de Luz”, em que se utilizam acrílico rígido e outros elementos compositivos como suportes de lâmpadas LED. Esta última fase já traz em si um caráter utilitário.
É nessa pluralidade das experimentações de Fábio em sua trajetória de artista, e também na de curador de artes que ele exerce regularmente, é aí que encontro a definição com que iniciei este texto, e que revela um artista dinâmico e versátil, movido por rica imaginação e maestria no trato das técnicas que aborda.
Comentários